sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

DESTAQUES DE 2012 NA TV, NO CINEMA E NO TEATRO


Um Livro – Nelson Rodrigues por ele mesmo (Sônia Rodrigues)


Mais de trinta anos após sua morte e no centenário de seu nascimento, é prazeroso ter um livro inédito narrado pela voz do dramaturgo, como se ele ainda estivesse vivo. Com as fichas de sua obra completa, suas frases mais marcantes, o livro traz uma visão do próprio Nelson Rodrigues sobre os fatos que ele retratava, extraídos de reportagens, depoimentos e entrevistas. Um presentão de sua filha, Sônia Rodrigues.


Uma peça nacional – Estamira: beira do mundo


Sair do teatro extasiado e sentir que os outros espectadores partilham desse sentimento. Foi isso que aconteceu comigo, depois desse monólogo. É um texto tão fácil de entender e ao mesmo tempo tão profundo que é impossível não mexer com quem assiste. E o trabalho da atriz Dani Barros não comporta adjetivos. Mereceu todos os prêmios que levou e os que não levou também.



Uma peça regional – Os Plagiários: uma adulteração ficcional sobre Nelson Rodrigues


Juntar quatro grandes grupos da cena gaúcha e homenagear Nelson Rodrigues, com texto de Diones Camargo e música de Arthur de Faria. Precisa falar mais?


Um filme – War Horse (Cavalo de Guerra)


Estrelado pelo jovem Jeremy Irvine e por seu cavalo Joey, War Horse é daqueles filmes que não são esquecidos.  Tem de tudo: um pouco de aventura, outro pouco de risada, um tanto de emoção, além de surpresas e reviravoltas. A bela fotografia e a destacável direção de Steven Spielberg ajudam a fazer deste o meu filme do ano. Lindo!


Uma atriz – Adriana Esteves


Basta dar um papel de destaque para uma boa atriz se destacar. Simples assim. Por acompanhar o trabalho – e o talento – de Adriana, previ no primeiro post do blog que ela ia ser o que foi. Colocou todo mundo no bolso, roubou a cena, roubou a novela, roubou o ano. Indiscutivelmente, o ano é dela e Carminha entra pra galeria de personagens memoráveis.


Um ator – Domingos Montagner


Se em 2011 já tinha aparecido como Herculano em Cordel Encantado, foi em 2012 que Domingos Montagner entrou de fato no elenco global. E no bom elenco global, grupo cada vez menor, diga-se de passagem. Começou o ano bem, como o presidente Paulo Ventura de O Brado Retumbante e terminou o ano bem, como o Zyah de Salve Jorge.


Um programa de TV – The Voice Brasil (Rede Globo)


Mesmo pecando em alguns aspectos da competição e até na escolha dos técnicos (vamos combinar que tinha participante cantando (MUITO) mais que a Cláudia Leite e o Daniel...), o programa foi um sucesso. A produção dos números realmente foi espetacular e Thiago Leifert surpreendeu. Tornou-se uma alternativa nas entediantes tardes de domingo. Além disso, o fato de uma negra, gorda e homossexual ter ganhado o programa (e o Brasil) pelo talento de sua voz foi um marcante sinal de avanço.


Uma série de TV – Sessão de Terapia (GNT)


Uma proposta inédita no Brasil, uma direção de Selton Mello e um elenco refinado, mesclando nomes mais conhecidos com outros mais desconhecidos, vindos do teatro.  A série investiu na divulgação e fez muita gente ligar no GNT, alavancando bons índices de audiência. Com alguma comédia e bastante drama, Sessão de Terapia não só mostrou qualidade como virou a série do ano. Destaque para Zécarlos Machado que custou a convencer que era um ator e não um psicólogo de fato.


Uma morte – Millôr Fernandes


2012 foi um ano de grandes perdas. Mas a intelectualidade brasileira perdeu um dos últimos grandes pensadores do século XX. Grande ilustrador, caricaturista, escritor, tradutor e frasista (sim, tudo isso!) Millôr morreu dia 27 de março de 2012, aos 87 anos, deixando o Brasil um tanto mais burro.


Um vídeo – Gangnam Style


Não sei nada além de que é o primeiro vídeo a ultrapassar a marca de 1 bilhão (e em apenas 5 meses) no YouTube. E que é muito engraçado ver aquele coreano dançando.


Uma criança – Mel Maia


Com apenas uma semana no ar vivendo a pequena Rita de Avenida Brasil, Mel Maia encantou a todos. Mostrou maturidade e talento inato nas fortes cenas com Adriana Esteves, Tony Ramos e Vera Holtz.


Uma frase –

Essa semana perdemos a grande Dona Canô. Pra esse fim de ano fica a sua frase, dita em setembro, em ocasião do seu último aniversário: “Viver é bom, mas saber viver é melhor”. 

Que saibamos viver em 2013 e que a arte nos aponte uma resposta. Evoé!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

CHICO BUARQUE SOBRE OSCAR NIEMEYER

Mesmo com 104 anos, Niemeyer permanecia pensando, trabalhando, arquitetando. Seu fôlego incansável e suas curvas únicas impressionavam a todos. Não é preciso ler placas ou perguntar para um guia, as obras de Niemeyer surgem imponentes onde quer que estejam - O Museu de Arte Contemporânea, em Niterói, o Museu que leva seu nome, em Curitiba, Brasília inteira... Desse modo, perdemos um gênio. Um cara que traçava as curvas na arquitetura como os poetas escrevem as curvas de uma mulher.

E Chico Buarque (que sabe muito bem como cantar as curvas de uma mulher) escreveu um pequeno textinho na ocasião que Niemeyer completava 90 anos, em 1997, que acho legal publicar aqui:

"A casa do Oscar era o sonho da família. Havia um terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. 
Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Mais tarde, num aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira.Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e saí batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar! 
Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguases, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar.Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar."
Chico Buarque

(publicado em SILVA, Fernando de Barros e. Folha Explica Chico Buarque: São Paulo: Publifolha, 2004)


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

TEATRO: FLOR DE OBSESSÃO/CINE-THEATRO

Segue aqui no blog as duas montagens que eu participo. Estão todos convidados!!!
Cine-Theatro é uma adaptação de um texto do Grupo Galpão. Comédia super bacana!
Flor de Obsessão é fragmentos da obra de Nelson Rodrigues: as cenas fundamentais de suas peças e de 'A Vida Como Ela É...' - vale a pena! Compareçam!!!!


CINE-THEATRO
Orientação/Direção: Larissa Sanguiné e Leo Maciel
Dias 06 e 07 de Dezembro, às 21h 
Teatro Museu do Trabalho (Andradas, 230)

Flor de Obsessão
Orientação/Direção: Zé Adão Barbosa
Dias 14, 15 e 16 de Dezembro, às 21h
Teatro Museu do Trabalho (Andradas, 230)

sábado, 24 de novembro de 2012

Frases VI: Woody Allen

"Eu teria que fazer uma pausa e me perguntar se conseguiria criar uma história que funcionasse no Brasil"


Woody Allen, cineasta americano, 76 anos, em entrevista antiga à revista Serafina, do jornal Folha de São Paulo.

domingo, 18 de novembro de 2012

CINEMA: Os Lindos Lábios de Camila Pitanga

Como é bom ver um Brasil representado tão bem em nosso - cada vez melhor - cinema. E representado em tantas belezas naturais e ao mesmo tempo num obscuro e entranhado lado da identidade brasileira.

Como é bom assistir a um filme que foge do eixo Rio-São Paulo, em que o personagem sai de casa com pé descalço e deixa a porta aberta e isso é plenamente verossímil.

Como é bom ter um elenco com alguns nomes "apagados", mas tão afinado e com a criação de personagens fortes.

E como é bom (como é ótimo!!) assistir a Camila Pitanga em sua melhor forma. Faltam adjetivos! Além dos seus lindos lábios, da sua sensualidade absurda, é uma atuação perfeita, impecável. O portal Ig na época do lançamento define a atuação: "Camila Pitanga desarma qualquer um. Comprometimento impressionante. é de se aplaudir de pé."

Filme um tanto difícil de se classificar, talvez um suspense, talvez um romance, uma aventura, possui suas falhas (poucas), mas enche os olhos. Lindo filme, lindo título. E linda, linda, deslumbrante Pitanga!!

Assista!


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

LITERATURA: Poesia de Domingo, de Afonso Antunes


Já corriam uns bons anos desde que havia lido um livro de poesia. Minha casa é a prosa, definitivamente. Tanto na escrita, quanto na leitura. Mas esse guri – um guri tanto quanto eu – me contatou com esse gênero novamente, me apresentou a poesia novamente, e a reaproximação foi imediata. Com a clara influência de Manuel Bandeira e Drummond, a poesia de Afonso Antunes é com verso livre e a rima não é obrigatória. Poesia de Domingo é a estreia na literatura de Afonso, um tímido porto-alegrense de 18 anos.



Afonso é persuasivo dentro de sua timidez. O cara é tão decididamente tímido, que é quase contagioso: tenho sempre a sensação que saio das nossas conversas um pouco mais tímido e nunca que eu consigo “puxa-lo” para o lado dos extrovertidos.
Afonso é corajoso dentro de sua timidez. Eu, que sou bem mais falante, tenho um punhado de textos guardados que não penso em publicar (um meio de receio, outro meio de preguiça, talvez). E qual outro tímido tem tamanha coragem de dedicar um poema intitulado “Verdade” à presidente da república? É, Afonso, talvez os tímidos dominem o mundo, mas antes disso você já dominou os tímidos.
E quem o conhece e sabe dessa sua característica tão marcante, surpreende-se ao ler “Poesia de Domingo”. Há uma eloquência consciente que percorre o livro do início ao fim. Uma força de teclado, um forte grito inteligente e ao mesmo tempo inteiramente poético.
Não sei se a poesia de Afonso é tão verdadeira ou se são nossos gostos e ideias parecidas – como já provamos ter – que fizeram com que eu me identificasse, tão logo o livro aberto, com diversas de suas experiências.
E, como todo o livro, algumas poesias precisam passar “apagadas” para existir aquelas que se destacam, versos, sacadas muito boas. Por exemplo, o poema “Livros inacabados”, em que Afonso consegue colocar enredos de Dom Quixote, Cem Anos de Solidão, O Apanhador no Campo de Centeio, A Revolução dos Bichos, O Velho e o Mar, e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ou então o poema “Ontem”, tão cheio de verdade, que consegue tirar lágrimas de leitores mais “sensíveis”, ou o poema “Intimidade Visual”, tão completo na sua singeleza, que talvez seja meu preferido, ou ainda “Johnny Bravo” e a comparação seguida com o diálogo com o personagem. E “diversas outras tantas”...



Não para, rapaz! Tens um caminho longo, como Seben já disse no prefácio.
Reafirmo que minha casa é a prosa. Mas ao terminar o livro de Afonso, descobri que a poesia é aquela casa sempre boa de visitar. Principalmente num dia especial. Num domingo qualquer.

domingo, 26 de agosto de 2012

TEATRO: 19º POA EM CENA


Começaram hoje as vendas de ingressos para o 19º Porto Alegre em Cena. Mais uma vez a cidade abre suas cortinas para importantes espetáculos nacionais e internacionais. E mais uma vez os espetáculos locais ganham força com o Prêmio Braskem. Há dezenove anos, o setembro de POA com teatro, shows, danças, de qualidade. Apesar dos preços estarem salgados – desvirtuando o objetivo do Festival, que é popularizar a cultura -, há uma intensa programação em todos os teatros da cidade. Esse ano, com destaque para as peças literárias e a homenagem a Nelson Rodrigues. Vale a pena conferir. Abaixo, alguns destaques e dicas pessoais:

INTERNACIONAIS:
MÃE CORAGEM E SEUS FILHOS (Alemanha): 
Berliner Ensemble é um famoso grupo de teatro alemão e está pela primeira vez em palcos brasileiros. O texto é do grande Bertold Brecht e a história se passa em plena guerra, com uma mãe tentando salvar seus filhos. É o grande destaque da programação desse ano. Dias 06, 07 e 08, às 20h no Theatro São Pedro.
            
FUERZA BRUTA (Argentina):         
Indefinível. Indescritível. Espaço se modificando durante a cena, público em pé, espetáculo feito em 360º. Uma "linguagem abstrata que deixa o espectador livre para interpretar o que quiser". É lindo!!! Dias 15, 16, 18, 19, 20, 21 e 22 às 22h; Sessão dupla, dia 22, às 18h.

NACIONAIS:
ANTES DO SILÊNCIO (MG):
Melhor espetáculo mineiro de 2011, Antes do Silêncio é construído a partir de fragmentos de Samuel Beckett. "Dois personagens. Um tempo circular. Uma história sobre o amor - ou a incapacidade de vivê-lo." Dias 21, 22 e 23, às 21h no teatro CIEE

DEUS DA CARNIFICINA - UMA COMÉDIA SEM JUÍZO (RJ)
O elenco conta com Julia Lemmertz e Débora Evelyn. Não gosto do Paulo Betti, mas ele também está. O texto é contemporâneo e a história parece ser simples e ao mesmo interessante. Dois casais se encontram para resolver um problema casual de filhos, mas "o verniz social se quebra e a polidez dá lugar a um campo de batalha, onde tudo pode acontecer". Um dos espetáculos aguardados para essa edição. Dias 11 e 12, às 21h, Theatro São Pedro.

ESTAMIRA - BEIRA DO MUNDO (RJ)
O premiado filme de Marcos Prado causou um reconhecimento na atriz Dani Barros, que resolveu seguir adiante o projeto. O resultado é que ela também foi premiada com o Shell 2011 de melhor atriz. "É a história de uma catadora de lixo, doente mental crônica, com uma percepção do mundo surpreendente e devastadora.". Dias 18, 19 e 20, às 22h no Teatro de Câmara Túlio Piva.

ECLIPSE (MG)
Inspirado nos contos de Tchekhov. Grupo Galpão. Precisa mais? Dias 20, 21 e 22, às 21h, no Theatro São Pedro.

LOCAIS:

OS PLAGIÁRIOS - UMA ADULTERAÇÃO FICCIONAL SOBRE NELSON RODRIGUES
O melhor do teatro gaúcho está aqui. E com Nelson Rodrigues abençoando. As quatro grandes companhias premiadas com o Braskem 2011 (Santa Estação, Sarcáustico, Daixa do Elefante e Falos & Stercus) realizaram o projeto "Conexão em Cena", até então inédito no Festival, para homenagear o centenário do dramaturgo. Dias 05, 06 e 07, às 21h, no Centro Cenotécnico.


Os ingressos estão a venda na Usina do Gasômetro e nas lojas My Ticket, além do site ingressorapido.com.br. Corre lá!



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

LITERATURA: 20 contos de Truman Capote*

Pense em algum nome familiar de escritor estadunidense de ficção. Difícil, não? No século passado, acho que apenas dois homens conseguiram superar as fronteiras norte-americanas e fazer boa literatura para o mundo: Ernest Hemingway e Truman Capote.  E é sobre esse maravilhoso livro “20 contos de Truman Capote” que veio falar.
Os contos reunidos cobrem a maior parte de sua vida criativa, até o grande sucesso dos romances "Bonequinha de Luxo", de 1958 (livro que posteriormente virou um clássico do cinema, estrelado pela linda Audrey Hepburn) e "A Sangue Frio", de 1965. Eu diria até que a fase áurea da vida de capote, o momento que ele mais produziu, pois depois se perde num terrível submundo de drogas, bebidas e autodestruição. É um livro denso, é preciso lê-lo com atenção e concentração. Por vezes descritivo demais, mas de um encantamento e beleza irrefutáveis.
O interessante é que muitos dos contos parecem ser uma ficção inicial, um insight para um romance inconcluso. E por isso até o final de alguns contos surpreende: “mas já?”. Os contos “Um vison próprio” e “A pechincha” dialogam entre si, ou melhor, são extremamentes semelhantes. Já na segunda metade do livro encontram-se “Memória de Natal”, “O convidado do Dia de Ação de Graças” e “Um Natal”, nesses a voz ficcional é a voz aguda de Capote rememorando sua infância. Alguns detalhes autobiográficos escritos nesses três contos, quando o menino Truman morou no interior do Alabama com seus primos mais velhos e encontrou na velha prima srta. Sook e em seu bicho de estimação Quennie as suas grandes companhias. Bonito de ler!
“Miriam” é fascinante – quase possível enxergar a inspiração dos roteiristas de A Órfã – e “Meu lado da questão” lembrou minha desilusão ao ler “O Assassinato de Roger Acroyd”, de Agatha Christie: nunca confie no narrador! E a criatividade transborda em “Senhor Desgraça” e “Um violão de diamante”. À medida que lia os contos, imaginava adaptações em curtas-metragens. Sairiam belos filmes, certamente.


Pela simples clareza de sua prosa e por uma brilhante economia de ritmo narrativo permanente, Capote limpa de toda possível sentimentalidade um pequeno rol de personagens, ações e emoções que poderiam ter se tornado abominavelmente doces em mãos menos observadoras e talentosas. Só é possível pensar em Tchékhov como suficientemente talentoso no tratamento de assunto semelhante.


*com trechos de Reynolds Price


Em tempo: Há um filme sobre a vida do escritor, chamado “Capote”, com a bela atuação de Phillip Hoffmann. É o filme perfeito da Bibi Ferreira (hehe). Também vale a pena!

Em tempo (2): O livro “20 contos de Truman Capote” faz parte de uma coleção da Companhia das Letras, que conta com títulos também ótimos como “50 contos de Machado de Assis” e “125 de Guy De Maupassant”.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

FRASES V: Nelson Rodrigues


"Todos nós temos histórias que encheriam uma biblioteca; qualquer um pode fazer três mil volumes sobre si mesmo."



Nelson Rodrigues (1912 - 1980), no livro publicado recentemente "Nelson Rodrigues por ele mesmo", organizado por sua filha, Sonia Rodrigues.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

CINEMA: Allen, Paris e Roma


Essas férias fiz as pazes com Woody Allen. Assisti seus dois últimos filmes e não achei de todo ruins. Todo mundo diz e é fato que Allen mudou muito sua maneira de fazer cinema e que atualmente entrou na categoria de “Blockbuster”, de fazer filme para vender. Mas, mesmo assim, esse velhinho mostra em alguns momentos a sua genialidade e o porquê de ser um dos nomes mais famosos do cinema hollywoodiano.
Se você é um espectador menos crítico e gosta mais de comédia assista “Para Roma, com amor”. Já se você não se importa de não dar gargalhadas, identifica Hemingway, Fitzgerald, Dalí e Picasso, assista “Meia-noite em Paris”. Woody Allen parece mostrar uma receita: os dois filmes começam com imagens das cidades, nas duas histórias as cidades são personagens da trama, não apenas panos de fundo. “Meia-noite em Paris” é melhor, com certeza. Analisemos:


O elenco de “Para Roma, com amor” conta com mais nomes conhecidos e, de fato, é melhor. O destaque é para o próprio Woody Allen com seu Jerry, um aposentado da indústria da música. O velho Jerry e a sua obsessão pela ópera de chuveiro de um conhecido é o que mais arranca risadas do espectador. Penélope Cruz é linda, sexy e ótima sempre, mas está um pouco apagada nesse filme. Seria muito mais interessante, por exemplo, ser dela o papel da amiga sexy que acaba conquistando o namorado da melhor amiga. Apesar de Ellen Page estar ótima nesse papel, Penélope exala muito mais sensualidade do que ela. O filme é bom, e apenas isso, pois perde o fôlego do meio para o fim. E já lendo sua sinopse é de se prever isso: dificilmente quatro histórias distintas vão conseguir sobreviver em 102 minutos. O espectador espera que em algum momento as tramas se cruzem, mas isso não acontece.


Se “Meia-noite em Paris” não conta com um elenco muito conhecido (à exceção de Owen Wilson e Marion Cotillard), o destaque é a fotografia: Woody Allen parece ser mais apaixonado por Paris do que por Roma. O filme é lindo por si só. E o roteiro parece ter sido costurado com mais calma: a cidade na chuva e o disco de Cole Porter que são retomados diversas vezes são dois exemplos disso. Com certeza “Meia-noite em Paris” é para ser visto por um público mais culto, pois só esse público entenderá o deslumbramento de Gil Pender ao encontrar os artistas dos anos 1920 – como Ernest Hemingway, T.S. Eliot e Scott Fitzgerald. E o filme traz uma lição: Gil, que vive em 2010, sonha em viver nos anos 1920. Adriana, que vive em 1920, sonha em viver na Belle Époque. Os escritores da Belle Époque sonham em viver no Renascimento. Ou seja, todos acham que a fase anterior é a Era do Ouro e que seriam mais felizes se houvessem nascido antes, mas quem vive na época, acaba vivendo uma vida pacata e ordinária e sonhando com o passado. É como se Allen (que já não tem muitas perspectivas de futuro) dissesse para si próprio e para seu espectador “Não olhe o passado. Viva o presente intensamente.” Aliás, Gil Pender é um roteirista hollywoodiano, ou um alter ego de Allen.


Desista de entender Woody Allen. O seu ilogismo é a sua ficção: um carro antigo que passa na rua à meia-noite e permite um mergulho no tempo, um homem comum que vira famoso do dia pra noite, uma ópera cantada no chuveiro. É essa a ficção de Allen e é essa a ficção que deve ser feita: sem efeitos especiais, sem bruxaria, sem cordões mágicos.
Dá vontade de passear por Roma e por Paris. E dá vontade de ver esse velhinho fazendo mais filmes.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

FRASES IV: Amora Mautner

Ainda no embalo da última postagem:

"Ser sem-vergonha não tem a ver com ser vulgar, mas com ter coragem. Todo ator tem que ser sem-vergonha e afetado, no sentido de ser cheio de afeto. Quando vejo um ator técnico demais, que não leva seu coração para o personagem, eu começo a bocejar. Não serve para mim."


Amora Mautner, diretora de núcleo da novela "Avenida Brasil", em entrevista a revista Tpm de Julho/2012. Amora é responsável pelo núcleo suburbano da trama e parte do sucesso da novela é creditado a ela.

terça-feira, 24 de julho de 2012

TV: As novas curvas da Avenida

A melhor novela dos últimos tempos. Foi assim que terminei meu primeiro texto aqui no blog, que falava sobre a primeira semana de “Avenida Brasil” e pode ser lido aqui. É, parece que eu estava certo! Agora já estamos no capítulo 100, a novela toma novos rumos, mas já podemos analisar mais profundamente e ter conclusões consolidadas.
A virada que está acontecendo na trama parece mexer com os telespectadores e fornece altos índices de audiência – o capítulo de ontem, segundo a coluna de Nilson Xavier no UOL, bateu os recordes ao atingir 45 pontos de média. Tudo isso porque João Emanuel Carneiro usa e abusa dos chamados ganchos, tanto de um capítulo para o outro, como de um bloco para o outro.



O que já foi visto e as novas curvas dessa Avenida:
Depois de meses em que eu me perguntava “porque ela não grava, não filma, não tira foto disso tudo?”, Nina conseguiu provas concretas e começou sua vingança no capítulo de hoje. A empregada que vira patroa lembra um pouco O Primo Basílio, de Eça de Queiroz, mas é o caminho mais coerente para a virada de jogo. Parece que vai começar uma vingança arrastada, com chantagem em cima de chantagem. “Quer que eu entregue as fotos?” vai ser bastante ouvida nas próximas semanas. Mas por mais humilhada que Carminha esteja, a novela já é dela. Como havia previsto, Adriana Esteves roubou a cena pra ela, com um indiscutível talento nas suas tiradas engraçadas, no fingimento com a família Tufão e no ódio obsessivo pela Rita (abaixo, vídeo com melhores momentos, para dar concretude ao que eu digo). Virou até hit do Facebook. Com certeza, é o principal personagem na carreira de Esteves e já é uma das maiores vilãs da televisão. Débora Falabella, a Nina/Rita, surpreendentemente, consegue acompanhar a vilã, mesmo que um passo atrás.

Cauã Reymond se firma como o principal nome masculino da nova geração de globais. O guri é muito bom. Mas o sofrimento do Jorginho está demasiado e arrastado. E não dá sinais que vai acabar tão cedo. Já o núcleo do lixão continua a esconder muitos segredos, mas Nilo se sobressaiu comparado à Lucinda.
Dos núcleos secundários, o destaque é para Suélen, Monalisa e Cadinho. Mesmo que lembre um pouco a Rakelly de Beleza Pura, a “ariranha” de Ísis Valverde dá graça e leveza à trama, além, é claro, de ser torta de gostosa. Heloísa Périssé, que na primeira semana sofreu com a separação de Tufão, caiu novamente no tom cômico, a sua praia. Mas está muito bem, prova de que nas cenas mais sérias, como na expulsão de Olenka de sua casa, a atriz consegue emocionar. E Alexandre Borges tá segurando um núcleo que já tá passado: Noêmia, Verônica e Paloma são três personagens insuportáveis. Novamente como eu havia previsto, ele ficou com Aléxia (a melhor), mas isso aconteceu cedo demais, provavelmente o final será outro (separar-se definitivamente das três e enganar outras três, quem sabe?).
De surpresas, Cacau Protásio como Zezé e Juliano Cazarré como Adauto.
Nessas novas curvas, Débora começa a se envolver com Iran; Leleco e Muricy já estão se pegando (e voltem logo, porque as discussões também já perderam a graça); Max parece que vai morrer assassinado misteriosamente, além, é claro, de Carminha ser humilhada e chantageada por Nina até o esgotamento.
O texto segue ágil e original (por exemplo, cena épica o “enterro” de Nina, com referência ao filme “Kill Bill”, de Tarantino) e continuo afirmando que João Emanuel Carneiro é o melhor autor da Rede Globo na atualidade. Novelão!

domingo, 15 de julho de 2012

FRASES III: Luis Fernando Verissimo

"A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer 'escrever claro' não é certo, mas é claro, certo?"



Luis Fernando Veríssimo, 
na crônica O Gigolô das Palavras. Grande Veríssimo!

sábado, 14 de julho de 2012

TV: A Moral do Bial

Ao terminar o programa “Na Moral” da noite de ontem – quase uma da manhã - , eu não sabia realmente qual havia sido a minha impressão: esperava mais, mas o programa não deixa de ser ruim.


A começar pelo cenário: é bom! Muito bom! Uma plateia não tão grande dividida em L, um tapete e dois bancos. Lembra uma casa, mas ao mesmo tempo um grande escritório. Cumpre o que o programa quer: um ar de “vamos falar sério”, mas também de “a casa é sua”. Esse objetivo que o programa traz de discussão, de poder dizer o que quiser é raro na televisão aberta brasileira. Lembro-me apenas do Serginho Groismann com “Altas Horas” e “Programa Livre”. E é necessário! É necessário ouvirmos os atores que fazem a TV – suas opiniões, entrevistas, debates. É necessário o diálogo entre ideias opostas, entre visões de mundo antagônicas, é aí que começamos a construir nosso senso crítico. Então nesse ponto, ponto pra “Na Moral”.
Mas vamos com cuidado. O programa não faz jus para tantos elogios. O que é Bial cortando os entrevistados? Demais! Entendo que tem que levar num ritmo rápido (até porque o programa se passa na madrugada), mas Bial deixa raciocínios inconclusos e histórias inacabadas. Tudo isso pra quê? Para ele discursar, discursar, discursar... Sim, muita coisa do que ele fala é aproveitada e são pensamentos bons, mas não precisa ser tanto. 8 de um lado, 80 de outro. Outro fator que me incomodou bastante é tamanha a parcialidade de Bial. Pareceu mais um programa para ele satisfazer seu ego, dizer para todos o que pensa. Por vezes é até constrangedor para o entrevistado (ontem, pelo menos, com o cara do blog e com o paparazzi não resta dúvida). Não convida se for ofender, Bial!


Muita gente “anônima” falou, sim! Se pensarmos, os únicos famosos no programa de ontem eram Pedro Cardoso e Dira Paes. Mas todos esses foram convidados. Senti falta de uma interação com a plateia (novamente cito “Altas Horas”), o inusitado, aquilo que está fora de programa. Os depoimentos só aparecem ao final e rapidamente e o telespectador perde com isso.
Aquela coisa de “artista-dj” também não convence. Pra quê? Deixa um artista ali o programa inteiro, mas não precisa mostrar a Dira Paes tentando colocar um fone de ouvido e improvisando ao não conseguir. As discussões são rápidas demais e, por conseguinte, superficiais (a fala do Pedro Cardoso ilustrou bem isso: “Acabou? Mas já? Eu tinha um caminhão de coisa pra falar”).



É bom ver Pedro Bial além do Big Brother. Sim, o cara é um bom repórter e bom apresentador (ele mostra estar bem a vontade, aliás), além de ser um cara muito inteligente. A ideia e o design de “Na Moral” também são ótimos. Mas ainda faltam alguns ajustes. E uma estabilidade, pois ao que parece a participação dos convidados e a escolha dos temas definirão o sucesso ou o fracasso do programa nas próximas semanas. 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

TEATRO: CLOWNBARET na Casa de Teatro

Você já imaginou um cabaré realizado apenas por palhaços? E com uma dona de circo que odeia palhaços? É exatamente essa bagunça que vai rolar na Casa de Teatro (Rua Garibaldi, 853) neste sábado, dia 14/07, às 22:30.
Os números clownescos são resultados de um semestre da oficina "Jogos Clownescos", ministrada pela maravilhosa Melissa Dornelles. São treze palhaços, incluindo alunos (eu!!!) e artistas convidados. E o CLOWNBARET é uma iniciativa inédita em Porto Alegre: o primeiro espaço para realização desse tipo.
E depois ainda vai rolar uma festa booooa, daquelas que sempre acontecem no Café Bertoldo! Não vai perder, né? Aparece por lá!


E se não conseguir ir no sábado, tem dobradinha dessa turma de nariz vermelho no bar 512 ali na Cidade Baixa (Rua João Alfredo, 512) no domingo, dia 15/07. Não tem desculpa!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

FRASES II: José Saramago

No aniversário de morte desse gênio, publico uma frase dele. Dois anos sem Saramago

"Se eu tivesse morrido antes de conhecer você, Pilar, eu teria morrido me sentindo muito mais velho. Aos 63 anos, minha segunda vida começou. Não posso me queixar. As coisas que você considera importantes não são tão importantes. Eu ganhei um Prêmio Nobel. E daí?"



José Saramago, em declaração para sua mulher Pilar del Rio feita em 2007, três anos antes da morte do escritor.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

TEATRO: A GAIVOTA AOS PEDAÇOS

Quem estiver em Porto Alegre no final de semana que vem, passa no Teatro Museu do Trabalho e confere nosso espetáculo. Super bem dirigido, dessa vez nos aventuramos no teatro realista de Anton Tchekhov.
A peça foi desconstruída, de maneira que os atores fazem diversos personagens e os personagens são feitos por diversos atores. O resto é ir e conferir!
E depois de um ano e meio, eu estou no elenco!!!! :D :D




A GAIVOTA AOS PEDAÇOS 
- livremente baseada na obra de Anton Tchekhov - 
22/06 e 23/06, sexta e sábado
21h
Teatro Museu do Trabalho (Rua dos Andradas, 230)


Direção: Larissa Sanguiné e Leo Maciel 
Elenco: Alessandra Werlang, Ana Paula Fraga, Gabriela Pascottini, Henrique Araujo, Jamile Hablich, Júlia Azzi, Leandro Nunes e Pedro Sanchez 

terça-feira, 12 de junho de 2012

LITERATURA: A maravilhosa Marina do gênio Zafón

Misture um enredo fascinante, personagens misteriosos e interessantes, um ambiente sombrio e o talento de contar histórias e você terá um bom livro nas mãos! Bom não, ótimo! Foi assim que me senti lendo “Marina”, o maravilhoso livro do espanhol Carlos Ruiz Zafón.  Não sei se seria ousadia da minha parte comparar Zafón com Umberto Eco. Talvez não. O fato é que a cada leitura saímos mais e mais agraciados com seu dom.


Mais uma vez volta a velha Barcelona, com suas catedrais e paisagens que só Zafón consegue descrever. Dessa vez, porém, diferentemente de “A Sombra do Vento” e de “O Jogo do Anjo”, não aparece no romance a Livraria Sampere & Filhos e o Cemitério dos Livros Esquecidos. O cemitério que aparece em “Marina” (e que é crucial para o desenvolvimento da trama) é real e sempre surge nas mais sombrias noites.
Aliás, de sombras e trevas Zafón parece entender bem. É sempre esse o tom de suas obras, mas em “Marina” os ambientes são cobertos pela forte relação da personagem-título com Óscar Drai, o narrador em primeira pessoa. Mas se o leitor espera um romance dos dois, pode interromper a leitura.
Óscar é estudante de um internato e certo dia adentra um casarão misterioso, onde conhece Marina. Ela o leva para uma aventura: um cemitério onde uma mulher vestida de negro sempre visita um túmulo sempre no último domingo do mês. Pronto. Os dois já estão presos a uma teia de suspenses e mistérios que tentam desvendar até o final. Por muitos momentos, tanto Óscar quanto Marina passam perto da morte. Sempre guiando os dois, o desenho de uma borboleta negra, que costura os acontecimentos e as pessoas envolvidas na trama.
O tempo não é cronológico. E isso já se percebe logo no prólogo: “Em maio de 1980, desapareci do mundo por uma semana. No espaço de sete dias e sete noites, ninguém soube do meu paradeiro. (...) Quinze anos depois, a memória daquele dia voltou para mim. Vi aquele menino vagando entre as brumas da estação de Francia e o nome de Marina se acendeu de novo como uma ferida aberta”  (Lindo, não?) Há capítulos que são somente narrações do passado, que explicam o mistério do presente – aliás, um recurso constantemente usado pelo autor. Então por isso eu recomendo que o leitor não demore muitos dias para continuar a leitura. Se caso acontecer, talvez seja necessário voltar algumas páginas para lembrar o que foi dito no campo do passado e também no do presente.
Zafón, na orelha do livro editado pela Suma tenta definir “Marina”: um dos meus favoritos, mais indefinível, mais difícil de categorizar e o mais pessoal de todos eles. É isso. Eu completo: Marina é daqueles poucos livros que você quer voltar do epílogo ao prólogo no mesmo instante, que quer ler devagar para não acabar.

Concordo com o jornal USA Today: “O talento visionário de Zafón para contar histórias é um gênero literário em si.” Super recomendo!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

FRASES I: Fernanda Montenegro

Hoje começa um novo mês e eu começo uma nova sessão aqui no blog: FRASES. Aqui eu colocarei frases e e/ou textinhos de atores e atrizes, escritores, cineastas, enfim, todos aqueles que contribuem para as artes de alguma maneira.
E claro, o espaço também está aberto para todos comentarem e deixarem as suas frases, como sempre.

Pra começar, da mãe de todos os atores:


"Acho uma merda. Uma merda. E sempre me perguntam isso. E eu sempre dou a mesma resposta. Mas não consigo me livrar disso. Acho ridículo. É como se me tirassem de uma pessoa e me transformassem em uma personagem. Isso é uma bobagem imensa"
                              
Fernanda Montenegro, 
comentando em entrevista à revista TPM de novembro/2011 o que acha de ser chamada de "a grande dama do teatro brasileiro"


domingo, 27 de maio de 2012

TEATRO: Sopro?


Na época que Fernanda Montenegro veio a Porto Alegre, ano passado, com o espetáculo “Viver Sem Tempos Mortos”, li algumas críticas e comentários sobre a peça. Em uma dessas resenhas o colunista narrava que havia assistido com seu amigo, que não tinha gostado.
- O que achou?
- Sinceramente? Não gostei!
- Como assim???????????
                Só com a fala desse amigo, o colunista havia se dado conta de que todos já estão pré-dispostos a amar tudo que a Montenegro faz, que já saímos de casa com as falas da volta: “Estava maravilhoso! É a Fernanda né?”. Mas ele percebeu também que SIM, pode haver pessoas que não gostem. Que essa unanimidade foi convencionada, embora não exista.
                Foi assim que me senti na última sexta-feira, ao assistir o espetáculo “Sopro”, do grupo Lume Teatro, de São Paulo. Pra quem não sabe, o Lume é uma das principais companhias de teatro do Brasil, e é inegável para todos nós, atores iniciantes, que eles são muito bons naquilo que fazem. Mas não gostei nenhum pouco do que assisti.

                Há uma linha muito tênue do espetáculo entre o gostar e o não gostar, o deslumbramento e o tédio. A impressão que fica é que o espetáculo foi feito para um grupo seleto de espectadores, que conseguem captar o sentido do que é feito em cena sem olhar para o relógio para saber se ainda falta muito tempo.
                Logo no início, ainda com as luzes apagadas e os burburinhos da platéia, percebe-se em cena um vulto. É um homem vestido de branco e com só um pé dando sua base. Está imóvel, estático, quase como uma estátua. Então, antes mesmo do espetáculo começar já distingui-se a excelente preparação corporal do ator. Estou falando de Carlos Simioni, um dos principais nomes da companhia. Quando a peça começa, o que se vê é uma seqüencia de movimentos num ritmo muito lento, por ora mais lentos que câmera lenta.
                A peça tem seus ganhos: o figurino é lindo! E pelo que se fazia – ou não se fazia – no palco, dava pra observar cada detalhe daquela roupa branca. Linda, realmente. Os efeitos cênicos, como a fumaça no início e as quatro cascatas de areia em cada canto do palco dão mais vida ao sopro. E a grande consciência de corpo de Simioni, que ficamos pensando “realmente o cara é foda!”.
                O significado de tudo isso é totalmente subjetivo: a essência do espetáculo é o vazio, o desconhecido, apenas o ser, a existência. O ator repete as ações de sua vida nesse estudo puro, sem pensamentos e julgamentos. Pode ser viagem minha, mas vi algo relacionado ao futuro e a água: por diversos momentos podemos pensar que o personagem está com sede, procurando água para beber. E quando cai as areias nos cantos, parece confirmar que é um deserto.
                Enfim, entre os poucos pontos bons, o que prevalece é o tédio. A companhia LUME é maravilhosa, e justamente por isso, o espetáculo deixa a desejar. Se quiser ir assisti-los, opte por “Café com Queijo”, que é bem melhor.