Na época que Fernanda Montenegro veio a Porto Alegre, ano passado, com o espetáculo “Viver Sem Tempos Mortos”, li algumas críticas e comentários sobre a peça. Em uma dessas resenhas o colunista narrava que havia assistido com seu amigo, que não tinha gostado.
- O que achou?
- Sinceramente? Não gostei!
- Como assim???????????
Só com a fala desse amigo, o colunista havia se dado conta de que todos já estão pré-dispostos a amar tudo que a Montenegro faz, que já saímos de casa com as falas da volta: “Estava maravilhoso! É a Fernanda né?”. Mas ele percebeu também que SIM, pode haver pessoas que não gostem. Que essa unanimidade foi convencionada, embora não exista.
Foi assim que me senti na última sexta-feira, ao assistir o espetáculo “Sopro”, do grupo Lume Teatro, de São Paulo. Pra quem não sabe, o Lume é uma das principais companhias de teatro do Brasil, e é inegável para todos nós, atores iniciantes, que eles são muito bons naquilo que fazem. Mas não gostei nenhum pouco do que assisti.
Há uma linha muito tênue do espetáculo entre o gostar e o não gostar, o deslumbramento e o tédio. A impressão que fica é que o espetáculo foi feito para um grupo seleto de espectadores, que conseguem captar o sentido do que é feito em cena sem olhar para o relógio para saber se ainda falta muito tempo.
Logo no início, ainda com as luzes apagadas e os burburinhos da platéia, percebe-se em cena um vulto. É um homem vestido de branco e com só um pé dando sua base. Está imóvel, estático, quase como uma estátua. Então, antes mesmo do espetáculo começar já distingui-se a excelente preparação corporal do ator. Estou falando de Carlos Simioni, um dos principais nomes da companhia. Quando a peça começa, o que se vê é uma seqüencia de movimentos num ritmo muito lento, por ora mais lentos que câmera lenta.
A peça tem seus ganhos: o figurino é lindo! E pelo que se fazia – ou não se fazia – no palco, dava pra observar cada detalhe daquela roupa branca. Linda, realmente. Os efeitos cênicos, como a fumaça no início e as quatro cascatas de areia em cada canto do palco dão mais vida ao sopro. E a grande consciência de corpo de Simioni, que ficamos pensando “realmente o cara é foda!”.
O significado de tudo isso é totalmente subjetivo: a essência do espetáculo é o vazio, o desconhecido, apenas o ser, a existência. O ator repete as ações de sua vida nesse estudo puro, sem pensamentos e julgamentos. Pode ser viagem minha, mas vi algo relacionado ao futuro e a água: por diversos momentos podemos pensar que o personagem está com sede, procurando água para beber. E quando cai as areias nos cantos, parece confirmar que é um deserto.
Enfim, entre os poucos pontos bons, o que prevalece é o tédio. A companhia LUME é maravilhosa, e justamente por isso, o espetáculo deixa a desejar. Se quiser ir assisti-los, opte por “Café com Queijo”, que é bem melhor.