quarta-feira, 15 de agosto de 2012

CINEMA: Allen, Paris e Roma


Essas férias fiz as pazes com Woody Allen. Assisti seus dois últimos filmes e não achei de todo ruins. Todo mundo diz e é fato que Allen mudou muito sua maneira de fazer cinema e que atualmente entrou na categoria de “Blockbuster”, de fazer filme para vender. Mas, mesmo assim, esse velhinho mostra em alguns momentos a sua genialidade e o porquê de ser um dos nomes mais famosos do cinema hollywoodiano.
Se você é um espectador menos crítico e gosta mais de comédia assista “Para Roma, com amor”. Já se você não se importa de não dar gargalhadas, identifica Hemingway, Fitzgerald, Dalí e Picasso, assista “Meia-noite em Paris”. Woody Allen parece mostrar uma receita: os dois filmes começam com imagens das cidades, nas duas histórias as cidades são personagens da trama, não apenas panos de fundo. “Meia-noite em Paris” é melhor, com certeza. Analisemos:


O elenco de “Para Roma, com amor” conta com mais nomes conhecidos e, de fato, é melhor. O destaque é para o próprio Woody Allen com seu Jerry, um aposentado da indústria da música. O velho Jerry e a sua obsessão pela ópera de chuveiro de um conhecido é o que mais arranca risadas do espectador. Penélope Cruz é linda, sexy e ótima sempre, mas está um pouco apagada nesse filme. Seria muito mais interessante, por exemplo, ser dela o papel da amiga sexy que acaba conquistando o namorado da melhor amiga. Apesar de Ellen Page estar ótima nesse papel, Penélope exala muito mais sensualidade do que ela. O filme é bom, e apenas isso, pois perde o fôlego do meio para o fim. E já lendo sua sinopse é de se prever isso: dificilmente quatro histórias distintas vão conseguir sobreviver em 102 minutos. O espectador espera que em algum momento as tramas se cruzem, mas isso não acontece.


Se “Meia-noite em Paris” não conta com um elenco muito conhecido (à exceção de Owen Wilson e Marion Cotillard), o destaque é a fotografia: Woody Allen parece ser mais apaixonado por Paris do que por Roma. O filme é lindo por si só. E o roteiro parece ter sido costurado com mais calma: a cidade na chuva e o disco de Cole Porter que são retomados diversas vezes são dois exemplos disso. Com certeza “Meia-noite em Paris” é para ser visto por um público mais culto, pois só esse público entenderá o deslumbramento de Gil Pender ao encontrar os artistas dos anos 1920 – como Ernest Hemingway, T.S. Eliot e Scott Fitzgerald. E o filme traz uma lição: Gil, que vive em 2010, sonha em viver nos anos 1920. Adriana, que vive em 1920, sonha em viver na Belle Époque. Os escritores da Belle Époque sonham em viver no Renascimento. Ou seja, todos acham que a fase anterior é a Era do Ouro e que seriam mais felizes se houvessem nascido antes, mas quem vive na época, acaba vivendo uma vida pacata e ordinária e sonhando com o passado. É como se Allen (que já não tem muitas perspectivas de futuro) dissesse para si próprio e para seu espectador “Não olhe o passado. Viva o presente intensamente.” Aliás, Gil Pender é um roteirista hollywoodiano, ou um alter ego de Allen.


Desista de entender Woody Allen. O seu ilogismo é a sua ficção: um carro antigo que passa na rua à meia-noite e permite um mergulho no tempo, um homem comum que vira famoso do dia pra noite, uma ópera cantada no chuveiro. É essa a ficção de Allen e é essa a ficção que deve ser feita: sem efeitos especiais, sem bruxaria, sem cordões mágicos.
Dá vontade de passear por Roma e por Paris. E dá vontade de ver esse velhinho fazendo mais filmes.

2 comentários:

  1. Nossa, eu adoro "Meia-noite em Paris", acho uma pequena obra-prima e um dos melhores Woody Allen da história (e isso que sou fã de carteirinha do "velhinho" hehehe).
    "Para Roma, com amor" é irregular, mas tem seus momentos (apesar do mala Roberto Benigni).
    E Woody é Woody, pro bem e pro mal.

    Abração (um dia eu consigo seguir teu blog)
    Clênio
    www.lennysmind.blogspot.com
    www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com

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  2. Eu não sou fã de Allen, mas, faz tempo que toda vez que monto minha lista de filmes pra pedir na Blockbuster ele é quase incluído.

    Depois da sua resenha e do comentário do Clenio me animei de vez, vou vê-lo.

    bj da angel ;)

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