domingo, 29 de abril de 2012

CINEMA: O Turista


O filme começa com Angelina Jolie tomando um chá, comendo um croissant e fazendo biquinho falando francês. É de prender a atenção de qualquer cara, né? De mim pelo menos só isso já bastou. Linda como sempre, com os cabelos em uma tonalidade quase ruiva e roupas e jóias caras, Angelina recebe uma misteriosa carta de um tal “Alexander”, o que serve para prender a mulherada também. Refiro-me a “O Turista”, ótima película de Florian Henckel von Donnesmarck, discreto diretor alemão. O filme estreou nas telonas brasileiras no final do ano passado e chegou às locadoras há pouco tempo.


                Ainda nessa cena inicial, vários homens de preto vigiam Jolie, a quem tratam apenas por “Ela”, de uma maneira que imagina-se qualquer coisa, desde uma afortunada homicida procurada pela Interpol no mundo todo até uma cantora famosa sendo protegida por seus seguranças. É esse tom de mistério e dúvida que costura toda a trama, tornando-a interessante e dinâmica.
                Logo o espectador fica sabendo que esse “Alexander” da carta é procurado pela polícia e também por um poderoso gângster. Ou seja, além de muito criminoso é também um grande caloteiro. Só pelos 20 minutos é que identifica-se a personagem de Jolie como Elise. E um pouco mais tarde aparece num trem, solitário e carente, Johnny Depp (aí sim a mulherada não sai mais do sofá...), o ator mais multifacetado de Hollywood. Johnny Depp nunca está igual – nem sequer parecido – nos filmes que trabalha: tomo mundo lembra dele como Jack Sparrow de “Piratas do Caribe”, mas ele também viveu o Chapeleiro Maluco do atual “Alice no País das Maravilhas”, o estranho Edward de “Edward Mãos de Tesoura” e agora filmou o sinistro vampiro Barnabas Collins num filme que estreará em seguida “Dark Shadows”. Aqui em “O Turista” ele é Frank, um visual mais básico, com barba por fazer e os cabelos crespos na altura dos ombros.
                O thriller deve muitos aos atores principais. Jolie e Depp têm química. Desde a primeira conversa entre os dois, fica claro que nada pode ficar claro, nem entre eles, nem para nós. Jolie manipula Depp, mas ele consegue sacar tudo. E nesse ínterim, surge a paixão. Ora de ambos, ora de apenas um, mas que permeia as cenas de ação e espionagem.
                Outro ponto que o filme ganha muito são os locais de filmagem. Há tempos não se via um filme norte-americano que não tivesse nenhuma gravação em solo estadunidense. Quase todas as cenas são gravadas na linda Veneza, com direito a perseguições e resgate nas gôndolas italianas. No início do filme (desde a ceninha do café até o trem onde está Depp) a cidade é Paris. E Paris sempre é Paris. 


                Para completar as qualidades, destaco o roteiro do filme, oscilante e ágil. Ágil porque não existem cenas vazias, o ritmo é rápido e há algumas pitadas de romance e comédia que, embora curtas, dinamizam a trama. Oscilante porque os dois personagens principais oscilam de mocinhos a vilões e de vilões a mocinhos em segundos, várias e várias vezes. Isso faz com que o espectador participe do filme, palpitando o destino de Elise e Frank e torcendo pelos dois.  
                A dupla foi indicada por suas atuações para o Globo de Ouro em 2011, mas ambos acabaram derrotados. Ele, vencido por Paul Giamatti e ela, por Annette Bening, de modo que o filme saiu sem nenhum grande prêmio. Mas, mesmo assim, não perde seus méritos de ser um grande filme. Assista! 


quinta-feira, 12 de abril de 2012

LITERATURA: Sobre a Rainha do Crime, Agatha Christie.


Eu me lembro bem: era um réveillon na praia. E pra não perder o costume que tenho, quando fui dormir, altas horas da noite, li um pouco. E pra não perder o costume, comecei um novo livro. Todo o dia 1º de janeiro eu começo um novo livro. O ano que iniciava era 2008 e o livro era “O Homem do Terno Marrom”, capa preta, edição da Altaya. A escritora: Agatha Christie. 

                Foi ali meu primeiro contato com a Rainha do Crime. De lá pra cá, somaram-se dezenas e dezenas de livros, o interesse pela sua história e por todos os detalhes e curiosidades que rondavam sua vasta obra. Pra quem não tem um contato muito próximo com livros, Agatha Christie é um bom começo. Duvido que depois que você ler algum livro forte dela, não se interessará por Sidney Sheldon, Conan Doyle, e, posteriormente, por Umberto Eco, por exemplo. Como eu considero o melhor começo para um futuro bom leitor, achei um bom começo para falar de literatura aqui no blog.
                Pra começar, eu destaco o certo preconceito que Agatha e outros autores do ramo, como o próprio Sheldon, sofrem por aqueles leitores estudiosos e críticos. Dizem eles que autores assim fazem “literatura barata”, “pra vender”, e que o certo então é ler Cervantes, Dante e tantos outros nomes clássicos. Com certeza isso é um absurdo. Agatha Christie faz literatura de lazer, fácil de ser compreendida. O único objetivo é entreter o leitor, o fazendo descobrir as pistas, amar e odiar os personagens, envolver-se na trama. Agatha Christie é uma boa formadora de leitores “mais encorpados”, visto que ninguém começa lendo Cervantes, e por esse motivo seu nome tem que ser respeitado. Não se pode ignorar o fato de que a bibliografia de Agatha Christie é a terceira mais lida no mundo, perdendo apenas para a Bíblia e a para Shakespeare. E também que sua peça teatral “A Ratoeira” é o espetáculo a mais tempo em cartaz no mundo: são quase 25.000 apresentações, ao longo de 60 anos, em Londres.
                Ficou mais fácil de ler Agatha Christie nos últimos anos, depois que a LPMPocket começou a relançar suas obras. São cerca de 80 romances policiais, além de contos, peças e romances não-policiais que Agatha escreveu com o pseudônimo de Mary Westmacott.
                Você pode começar a ler por ordem cronológica, desde “O Misterioso Caso de Styles” até “Cai o Pano”. A vantagem é que você verá claramente as transformações dos principais detetives de Agatha, Hercule Poirot e Miss Marple. A desvantagem é a rigidez da leitura. Ou você pode começar a ler aleatoriamente – o que eu aconselho -, sempre prestando atenção nos anos de publicação e nos detetives dos livros. Não é raro Poirot citar casos antigos, por exemplo. Só não faça de suas primeiras leituras  “Cai o Pano” nem “Um Crime Adormecido”: os dois livros narram a morte dos detetives (respectivamente, Poirot e Marple); Agatha Christie guardou num cofre os manuscritos do livro para que fossem publicados após sua morte, com o objetivo de não deixar que nenhum outro escritor desse outro fim para seus heróis. “Um Crime Adormecido” não li ainda, mas posso assegurar que a morte de Poirot é linda!
                Aliás, não é só de sangue que sobrevive os escritos de Agatha. Às vezes encontramos esse lirismo da morte de Poirot em outros de seus livros, o que deixa a trama mais bonita e interessante. É o caso por exemplo do final de “A Mansão Hollow”, com o triste e lindo choro de Henrieta Savernake.
                Agatha também tem livros mais fracos, como “Um Corpo na Biblioteca” e “O Natal de Poirot”. E tenha cuidado com livros que estão sendo lançados inéditos agora, como “A Teia de Aranha” e “O Visitante Inesperado”, não sei se colocam o nome de Agatha pra vender mais ou se realmente é uma parceria. O fato é que livros inéditos surgidos agora não podem ser comparados e classificados com a sua bibliografia deixada em vida. Mas não deixe de ler pelo menos suas obras-primas “O Caso dos Dez Negrinhos” (o melhor! Maravilhoso!) e “Assassinato no Expresso do Oriente” (surpreendente!), e uma indicação particular, “A Casa Torta”, outro livro singular. 



               Enfim, já me estendi. E ainda há tanta coisa pra falar que eu prometo voltar pra comentar sobre seus detetives, as adaptações para o cinema e a vida da “Duquesa da Morte”. Por enquanto, corra a qualquer livraria e comece a colecionar os novos livros de bolso que estampam o nome de Agatha na capa. Com certeza, uma envolve história te aguarda e, muito provavelmente, será o início de um vício, um bom vício.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

CINEMA: A qualidade cênica de "O Artista" e a qualidade técnica de "A Invenção de Hugo Cabret"



Foi a primeira vez em muitos anos que o Oscar premiou com igual número de estatuetas dois filmes: O Artista e A Invenção de Hugo Cabret, ambas com 5 – os filmes mais premiados do ano. “O Artista” levou os prêmios principais (Filme, Direção, Ator. Além de Figurino e Trilha Sonora Original), já “Hugo Cabret” levou estatuetas técnicas (Mixagem de Som, Edição de Som, Efeitos Visuais, Fotografia e Direção de Arte). E como a Academia de Hollywood foi justa!
                Os dois filmes são belíssimos, mas “O Artista” é melhor que “Hugo Cabret”.
                “Hugo” (nome original do filme) convida o espectador a passear por um mundo quase encantado, quase País das Maravilhas, tamanha a magia nos olhos do menino, tamanha a beleza fotográfica do filme. Martin Scorsese ousa em realizar um 3D, e poderia até ter explorado mais esse lado, mas como resultado tem o “acordo de paz” com a Academia, onde tantas vezes foi esquecido. Merecia tanto quanto Hazanavicius o prêmio da direção. Duas cenas do filme merecem destaque: a invasão do trem na estação e a descoberta de Hugo dos velhos desenhos de George Meliès. São lindas!
                Mas “O Artista” é, de fato, o melhor filme. O oscarizado diretor Michel Hazanavicius é ousado: fazer um filme nos moldes do cinema antigo, em preto e branco e mudo e transformar esse filme em obra de arte é pra quem tem talento e ousadia. E as interpretações de Juan Dejardin e Berenice Bejo são excelentes, visto que a expressão facial tem que ser aumentada já que não há falas. Há apenas duas coisas erradas em “O Artista”: ele é classificado como comédia, mas na realidade é um drama. Não vá para o cinema achando que dará altas risadas, porque você se decepcionará. E a segunda é que senti muita falta de um beijo entre George e Peppy.
                “O Artista” é mais real que “Hugo”. Fiquei imaginando se algum artista do cinema mudo sofreu o mesmo que George. Bem possível. Já “Hugo” é mais fantasioso, um boneco que precisa de uma chave para voltar a desenhar; mas, apesar de não ser tão real, é bastante verossímil.
                Em “O Artista” ocorre um paralelismo entre a decadência do cinema mudo e a ascensão do cinema falado que torna o filme mais interessante, além de que existe uma mensagem, uma “Moral da História” inexistente em “Hugo Cabret”: o filme lida com o orgulho de George, que quase morre por causa disso, mas que acaba vencendo e voltando à felicidade.
                Mas os dois filmes dialogam muito, principalmente pela homenagem ao cinema do início do século passado. As cenas de cinema antigo de “Hugo Cabret” são bonitas, mas estão em excesso no filme. É tão forte o diálogo que é praticamente igual a cena em que George Valentin (O Artista) e George Meliès (Hugo Cabret) assistem às suas películas, melancolicamente, em casa, relembrando os velhos e áureos tempos. Aliás, seria coincidência o nome de ambos ser George?
                Excelentes e lindos, os dois filmes são um bom exemplo do que o cinema pode produzir de melhor, do que a gente não imagina até enxergar, de fidedignas obras de arte e merecedoras dos óscares conquistaram. Assista! Vale a pena!

TV: As novas temporadas começaram




Há alguns bons anos já é assim: acaba o Big Brother e na semana seguinte a Globo lança sua programação. Voltam os programas noturnos, os seriados, o Jô Soares. E os espectadores que apreciam o que a emissora tem de melhor, matam as saudades. E foi essa saudade que matamos nessa semana de dois programas.
                Tapas & Beijos começou como especial de fim de ano da Globo em 2010 e brigou com “Batendo Ponto” e “Junto & Misturado” para assumir as noites de terça-feira, no lugar de Casseta & Planeta (que, aliás, voltou, para a infelicidade geral da nação). Conseguiu a vaga e agora arranca sua segunda temporada.
                O ritmo da série é o que mais surpreende: as tomadas são curtas, os diálogos são rápidos e as piadas vêm uma atrás da outra. Esse é o ponto peculiar da série e é isso que prende o espectador. E no primeiro episódio dessa temporada não foi diferente. De mudanças, Fátima (Fernanda Torres) e Sueli (Andréa Beltrão) voltam casadas e vizinhas em Copacabana e Malu Rodrigues (a Bia) entra para o elenco fixo.
                Boa parte do sucesso da série deve-se aos atores: Fernanda e Andréa são maravilhosas. E encontraram uma grande afinidade nas duas amigas vendedoras de vestidos de noiva, criando figuras reais, que acreditamos realmente que existem. Podemos comparar Fátima e Sueli com amigas que conhecemos na esquina, no mercado, na faculdade. São e estão maravilhosas. Já Vladmir Britcha e Fábio Assunção são nomes de peso, mas parecem criar personagens caricaturais. Ora funciona, ora são exagerados. Para os personagens periféricos, o destaque é de Otávio Müller, que nos faz rir mesmo quando não fala nada.
                Mesmo sendo uma série muito boa, falta fôlego para Tapas & Beijos. As histórias mudam pouco, pois os conflitos basicamente são os mesmos – todo o capítulo os casais discutem, se acertam e terminam brigando novamente. Melhoraria se a voz da Joelma saísse da abertura, se os cenários externos fossem ampliados e se algum figurinista tirasse aquelas pulseiras barulhentas do braço de Fátima.
                Se falta fôlego para uma, sobra para outra. Há onze anos no ar, A Grande Família já representa quase um Fantástico na tradição dos lares dos brasileiros. Todos nós aprendemos a amar Nenê, Lineu, Bebel, Tuco e, principalmente, Agostinho, de modo que torcemos, rimos e nos apegamos aos personagens. O primeiro episódio da 12ª temporada mostra que a série vai muito bem, obrigado. Luis Miranda entra para o elenco fixo, como o pajé Murici e os insuportáveis Beiçola (Marcos Oliveira) e Mendonça (Tonico Pereira) infelizmente continuam na série. Nenê está mais bonita, Bebel está mais gostosa(!!) e Lineu, mais gagá. O salto de 4 anos, o coma de Lineu e o crescimento de Florianinho são exemplos de mudanças que aconteceram e que dão nova vida à série.
                Senti no episódio de ontem uma singela homenagem a Jorge Dória, ator que viveu Lineu na primeira versão do seriado, na década de 1970 e que nos primeiros anos de 2000 vivia Maurição, pai do gay Alfredinho (Lúcio Mauro Filho, o Tuco) no Zorra Total, com o célebre bordão “onde foi que eu errei?”. Ontem, o Alfredinho voltou como Serginho e o “Papai não deixa” não era Lineu, mas Maurição. Bonita homenagem, já que Dória, aos 91 anos, está há muito tempo afastado da TV, por conta de seu frágil estado de saúde.
                O primeiro episódio acabou “do nada”, com Lineu e Nenê brigados. Ficou um gostinho de “quero mais”, que há uma década já nos é habitual...
                Vida longa à Tapas&Beijos, vida longa à Grande Família!

domingo, 1 de abril de 2012

TV: A primeira semana de Avenida Brasil


Passada uma semana já dá pra palpitar, opinar e discutir um pouco sobre “Avenida Brasil”.

                Para quem estava acostumado com os tweets e as alfinetadas de Aguinaldo Silva, é notável a discrição de João Emanuel Carneiro, o que contribui para a trama, na medida em que o foco está no enredo em si e não no ego de quem o escreve. João Emanuel é atualmente o melhor autor de novelas da Rede Globo (foi dele também “Da Cor do Pecado” e “A Favorita”), por duas principais razões: ter um roteiro muito bem trabalhado e um texto ágil, onde não existem cenas vazias e personagens sem rumo; e pela sua originalidade, com núcleos raros (é o caso do lixão) e propostas inéditas (a dúvida de quem era a vilã e a mocinha em “A Favorita”, por exemplo). E é esta a originalidade que falta nos demais autores. Para citar dois, Manoel Carlos aparece sempre com sua Helena, seu Leblon, suas famílias de comerciais de margarinas. Gilberto Braga, por sua vez, não escreve nada sem um “Quem Matou?”.
                Se de autor estamos bem servidos, de elenco nem tanto. Com exceção da sempre ótima Vera Holtz, faltam nomes de peso. Por isso, já palpito que a protagonista dessa novela – aquela que roubará a cena - será a vilã Adriana Esteves. E além do inegável talento que Esteves mostrou nessa primeira semana, mais um motivo que poucos se lembram, me leva a tal hipótese: foi ela que viveu a lendária Nazaré Tedesco, na primeira fase de Senhora do Destino.
                Já os outros atores principais ficam devendo: falta estrada pra Marcello Novaes, Murilo Benício parece não ter desencarnado o Dodi de “A Favorita” e, no mínimo, precisa emagrecer uns 10kg para interpretar um jogador de futebol.  E que Deus ajude Débora Falabella a não ser uma mocinha sem graça. A exceção aqui ocorre com Heloísa Perissé, que, acostumada a papéis cômicos, surpreende no sofrimento de sua personagem.
                De resto, vale destacar Alexandre Borges, que está impagável (e muito bem servido!) com suas três mulheres. Palpito aqui que ele fica com Carolina Ferraz no final. E a menina linda da Mel Maia, que carrega raiva e ódio sem tirar a doçura de criança. É impressionante a dramaticidade, a expressão facial e o talento da menina, como se fosse veterana de décadas. E foi dela a melhor cena da primeira semana: o casamento de mentira de Rita e Batata. Com certeza, Mel Maia já é atriz! Infelizmente o tempo passa e ela cresce, mas com tamanho sucesso que teve nessa primeira semana, não duvido nada que ela não volte como filha de alguém.
                Entre poucos erros e muitos acertos, “Avenida Brasil” supera “Fina Estampa” disparadamente. Que João Emanuel Carneiro continue nas sombras dos holofotes e que o elenco consiga levar a trama. Teremos surpresas, com certeza. Mas serão essas surpresas que arrancarão uma boa audiência e farão desta a melhor novela dos últimos tempos.