O filme começa com Angelina Jolie tomando um chá, comendo um croissant e fazendo biquinho falando francês. É de prender a atenção de qualquer cara, né? De mim pelo menos só isso já bastou. Linda como sempre, com os cabelos em uma tonalidade quase ruiva e roupas e jóias caras, Angelina recebe uma misteriosa carta de um tal “Alexander”, o que serve para prender a mulherada também. Refiro-me a “O Turista”, ótima película de Florian Henckel von Donnesmarck, discreto diretor alemão. O filme estreou nas telonas brasileiras no final do ano passado e chegou às locadoras há pouco tempo.
Ainda nessa cena inicial, vários homens de preto vigiam Jolie, a quem tratam apenas por “Ela”, de uma maneira que imagina-se qualquer coisa, desde uma afortunada homicida procurada pela Interpol no mundo todo até uma cantora famosa sendo protegida por seus seguranças. É esse tom de mistério e dúvida que costura toda a trama, tornando-a interessante e dinâmica.
Logo o espectador fica sabendo que esse “Alexander” da carta é procurado pela polícia e também por um poderoso gângster. Ou seja, além de muito criminoso é também um grande caloteiro. Só pelos 20 minutos é que identifica-se a personagem de Jolie como Elise. E um pouco mais tarde aparece num trem, solitário e carente, Johnny Depp (aí sim a mulherada não sai mais do sofá...), o ator mais multifacetado de Hollywood. Johnny Depp nunca está igual – nem sequer parecido – nos filmes que trabalha: tomo mundo lembra dele como Jack Sparrow de “Piratas do Caribe”, mas ele também viveu o Chapeleiro Maluco do atual “Alice no País das Maravilhas”, o estranho Edward de “Edward Mãos de Tesoura” e agora filmou o sinistro vampiro Barnabas Collins num filme que estreará em seguida “Dark Shadows”. Aqui em “O Turista” ele é Frank, um visual mais básico, com barba por fazer e os cabelos crespos na altura dos ombros.
O thriller deve muitos aos atores principais. Jolie e Depp têm química. Desde a primeira conversa entre os dois, fica claro que nada pode ficar claro, nem entre eles, nem para nós. Jolie manipula Depp, mas ele consegue sacar tudo. E nesse ínterim, surge a paixão. Ora de ambos, ora de apenas um, mas que permeia as cenas de ação e espionagem.
Outro ponto que o filme ganha muito são os locais de filmagem. Há tempos não se via um filme norte-americano que não tivesse nenhuma gravação em solo estadunidense. Quase todas as cenas são gravadas na linda Veneza, com direito a perseguições e resgate nas gôndolas italianas. No início do filme (desde a ceninha do café até o trem onde está Depp) a cidade é Paris. E Paris sempre é Paris.
Para completar as qualidades, destaco o roteiro do filme, oscilante e ágil. Ágil porque não existem cenas vazias, o ritmo é rápido e há algumas pitadas de romance e comédia que, embora curtas, dinamizam a trama. Oscilante porque os dois personagens principais oscilam de mocinhos a vilões e de vilões a mocinhos em segundos, várias e várias vezes. Isso faz com que o espectador participe do filme, palpitando o destino de Elise e Frank e torcendo pelos dois.
A dupla foi indicada por suas atuações para o Globo de Ouro em 2011, mas ambos acabaram derrotados. Ele, vencido por Paul Giamatti e ela, por Annette Bening, de modo que o filme saiu sem nenhum grande prêmio. Mas, mesmo assim, não perde seus méritos de ser um grande filme. Assista!