Misture um enredo fascinante, personagens misteriosos e interessantes, um ambiente sombrio e o talento de contar histórias e você terá um bom livro nas mãos! Bom não, ótimo! Foi assim que me senti lendo “Marina”, o maravilhoso livro do espanhol Carlos Ruiz Zafón. Não sei se seria ousadia da minha parte comparar Zafón com Umberto Eco. Talvez não. O fato é que a cada leitura saímos mais e mais agraciados com seu dom.
Mais uma vez volta a velha Barcelona, com suas catedrais e paisagens que só Zafón consegue descrever. Dessa vez, porém, diferentemente de “A Sombra do Vento” e de “O Jogo do Anjo”, não aparece no romance a Livraria Sampere & Filhos e o Cemitério dos Livros Esquecidos. O cemitério que aparece em “Marina” (e que é crucial para o desenvolvimento da trama) é real e sempre surge nas mais sombrias noites.
Aliás, de sombras e trevas Zafón parece entender bem. É sempre esse o tom de suas obras, mas em “Marina” os ambientes são cobertos pela forte relação da personagem-título com Óscar Drai, o narrador em primeira pessoa. Mas se o leitor espera um romance dos dois, pode interromper a leitura.
Óscar é estudante de um internato e certo dia adentra um casarão misterioso, onde conhece Marina. Ela o leva para uma aventura: um cemitério onde uma mulher vestida de negro sempre visita um túmulo sempre no último domingo do mês. Pronto. Os dois já estão presos a uma teia de suspenses e mistérios que tentam desvendar até o final. Por muitos momentos, tanto Óscar quanto Marina passam perto da morte. Sempre guiando os dois, o desenho de uma borboleta negra, que costura os acontecimentos e as pessoas envolvidas na trama.
O tempo não é cronológico. E isso já se percebe logo no prólogo: “Em maio de 1980, desapareci do mundo por uma semana. No espaço de sete dias e sete noites, ninguém soube do meu paradeiro. (...) Quinze anos depois, a memória daquele dia voltou para mim. Vi aquele menino vagando entre as brumas da estação de Francia e o nome de Marina se acendeu de novo como uma ferida aberta” (Lindo, não?) Há capítulos que são somente narrações do passado, que explicam o mistério do presente – aliás, um recurso constantemente usado pelo autor. Então por isso eu recomendo que o leitor não demore muitos dias para continuar a leitura. Se caso acontecer, talvez seja necessário voltar algumas páginas para lembrar o que foi dito no campo do passado e também no do presente.
Zafón, na orelha do livro editado pela Suma tenta definir “Marina”: um dos meus favoritos, mais indefinível, mais difícil de categorizar e o mais pessoal de todos eles. É isso. Eu completo: Marina é daqueles poucos livros que você quer voltar do epílogo ao prólogo no mesmo instante, que quer ler devagar para não acabar.
Concordo com o jornal USA Today: “O talento visionário de Zafón para contar histórias é um gênero literário em si.” Super recomendo!