quarta-feira, 14 de novembro de 2012

LITERATURA: Poesia de Domingo, de Afonso Antunes


Já corriam uns bons anos desde que havia lido um livro de poesia. Minha casa é a prosa, definitivamente. Tanto na escrita, quanto na leitura. Mas esse guri – um guri tanto quanto eu – me contatou com esse gênero novamente, me apresentou a poesia novamente, e a reaproximação foi imediata. Com a clara influência de Manuel Bandeira e Drummond, a poesia de Afonso Antunes é com verso livre e a rima não é obrigatória. Poesia de Domingo é a estreia na literatura de Afonso, um tímido porto-alegrense de 18 anos.



Afonso é persuasivo dentro de sua timidez. O cara é tão decididamente tímido, que é quase contagioso: tenho sempre a sensação que saio das nossas conversas um pouco mais tímido e nunca que eu consigo “puxa-lo” para o lado dos extrovertidos.
Afonso é corajoso dentro de sua timidez. Eu, que sou bem mais falante, tenho um punhado de textos guardados que não penso em publicar (um meio de receio, outro meio de preguiça, talvez). E qual outro tímido tem tamanha coragem de dedicar um poema intitulado “Verdade” à presidente da república? É, Afonso, talvez os tímidos dominem o mundo, mas antes disso você já dominou os tímidos.
E quem o conhece e sabe dessa sua característica tão marcante, surpreende-se ao ler “Poesia de Domingo”. Há uma eloquência consciente que percorre o livro do início ao fim. Uma força de teclado, um forte grito inteligente e ao mesmo tempo inteiramente poético.
Não sei se a poesia de Afonso é tão verdadeira ou se são nossos gostos e ideias parecidas – como já provamos ter – que fizeram com que eu me identificasse, tão logo o livro aberto, com diversas de suas experiências.
E, como todo o livro, algumas poesias precisam passar “apagadas” para existir aquelas que se destacam, versos, sacadas muito boas. Por exemplo, o poema “Livros inacabados”, em que Afonso consegue colocar enredos de Dom Quixote, Cem Anos de Solidão, O Apanhador no Campo de Centeio, A Revolução dos Bichos, O Velho e o Mar, e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ou então o poema “Ontem”, tão cheio de verdade, que consegue tirar lágrimas de leitores mais “sensíveis”, ou o poema “Intimidade Visual”, tão completo na sua singeleza, que talvez seja meu preferido, ou ainda “Johnny Bravo” e a comparação seguida com o diálogo com o personagem. E “diversas outras tantas”...



Não para, rapaz! Tens um caminho longo, como Seben já disse no prefácio.
Reafirmo que minha casa é a prosa. Mas ao terminar o livro de Afonso, descobri que a poesia é aquela casa sempre boa de visitar. Principalmente num dia especial. Num domingo qualquer.

Um comentário:

  1. O que mais me chamou a atenção lá no momentos dos autógrafos foi a quantidade de jovens com o livro do Afonso. Para nós que somos da letras, esse não é nosso primeiro contato com o gênero (e nem será o último), mas pra essa gurizada, talvez seja o primeiro livro de poesia que eles tenham comprado, que talvez venham a ler. E como eu já disse para o autor do livro (leia-se o Afonso), talvez o livro dele proporcione o primeiro encanto com a poesia pra essa galera que pode não ter o hábito da leitura, quem sabe é pelo livro dele que eles venham a descobrir o fantástico mundo dos livros, e certamente essa é a melhor recompensa.

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