Pense em algum nome familiar de escritor estadunidense de ficção. Difícil, não? No século passado, acho que apenas dois homens conseguiram superar as fronteiras norte-americanas e fazer boa literatura para o mundo: Ernest Hemingway e Truman Capote. E é sobre esse maravilhoso livro “20 contos de Truman Capote” que veio falar.
Os contos reunidos cobrem a maior parte de sua vida criativa, até o grande sucesso dos romances "Bonequinha de Luxo", de 1958 (livro que posteriormente virou um clássico do cinema, estrelado pela linda Audrey Hepburn) e "A Sangue Frio", de 1965. Eu diria até que a fase áurea da vida de capote, o momento que ele mais produziu, pois depois se perde num terrível submundo de drogas, bebidas e autodestruição. É um livro denso, é preciso lê-lo com atenção e concentração. Por vezes descritivo demais, mas de um encantamento e beleza irrefutáveis.
O interessante é que muitos dos contos parecem ser uma ficção inicial, um insight para um romance inconcluso. E por isso até o final de alguns contos surpreende: “mas já?”. Os contos “Um vison próprio” e “A pechincha” dialogam entre si, ou melhor, são extremamentes semelhantes. Já na segunda metade do livro encontram-se “Memória de Natal”, “O convidado do Dia de Ação de Graças” e “Um Natal”, nesses a voz ficcional é a voz aguda de Capote rememorando sua infância. Alguns detalhes autobiográficos escritos nesses três contos, quando o menino Truman morou no interior do Alabama com seus primos mais velhos e encontrou na velha prima srta. Sook e em seu bicho de estimação Quennie as suas grandes companhias. Bonito de ler!
“Miriam” é fascinante – quase possível enxergar a inspiração dos roteiristas de A Órfã – e “Meu lado da questão” lembrou minha desilusão ao ler “O Assassinato de Roger Acroyd”, de Agatha Christie: nunca confie no narrador! E a criatividade transborda em “Senhor Desgraça” e “Um violão de diamante”. À medida que lia os contos, imaginava adaptações em curtas-metragens. Sairiam belos filmes, certamente.
Pela simples clareza de sua prosa e por uma brilhante economia de ritmo narrativo permanente, Capote limpa de toda possível sentimentalidade um pequeno rol de personagens, ações e emoções que poderiam ter se tornado abominavelmente doces em mãos menos observadoras e talentosas. Só é possível pensar em Tchékhov como suficientemente talentoso no tratamento de assunto semelhante.
*com trechos de Reynolds Price
Em tempo: Há um filme sobre a vida do escritor, chamado “Capote”, com a bela atuação de Phillip Hoffmann. É o filme perfeito da Bibi Ferreira (hehe). Também vale a pena!
Em tempo (2): O livro “20 contos de Truman Capote” faz parte de uma coleção da Companhia das Letras, que conta com títulos também ótimos como “50 contos de Machado de Assis” e “125 de Guy De Maupassant”.
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