domingo, 26 de agosto de 2012

TEATRO: 19º POA EM CENA


Começaram hoje as vendas de ingressos para o 19º Porto Alegre em Cena. Mais uma vez a cidade abre suas cortinas para importantes espetáculos nacionais e internacionais. E mais uma vez os espetáculos locais ganham força com o Prêmio Braskem. Há dezenove anos, o setembro de POA com teatro, shows, danças, de qualidade. Apesar dos preços estarem salgados – desvirtuando o objetivo do Festival, que é popularizar a cultura -, há uma intensa programação em todos os teatros da cidade. Esse ano, com destaque para as peças literárias e a homenagem a Nelson Rodrigues. Vale a pena conferir. Abaixo, alguns destaques e dicas pessoais:

INTERNACIONAIS:
MÃE CORAGEM E SEUS FILHOS (Alemanha): 
Berliner Ensemble é um famoso grupo de teatro alemão e está pela primeira vez em palcos brasileiros. O texto é do grande Bertold Brecht e a história se passa em plena guerra, com uma mãe tentando salvar seus filhos. É o grande destaque da programação desse ano. Dias 06, 07 e 08, às 20h no Theatro São Pedro.
            
FUERZA BRUTA (Argentina):         
Indefinível. Indescritível. Espaço se modificando durante a cena, público em pé, espetáculo feito em 360º. Uma "linguagem abstrata que deixa o espectador livre para interpretar o que quiser". É lindo!!! Dias 15, 16, 18, 19, 20, 21 e 22 às 22h; Sessão dupla, dia 22, às 18h.

NACIONAIS:
ANTES DO SILÊNCIO (MG):
Melhor espetáculo mineiro de 2011, Antes do Silêncio é construído a partir de fragmentos de Samuel Beckett. "Dois personagens. Um tempo circular. Uma história sobre o amor - ou a incapacidade de vivê-lo." Dias 21, 22 e 23, às 21h no teatro CIEE

DEUS DA CARNIFICINA - UMA COMÉDIA SEM JUÍZO (RJ)
O elenco conta com Julia Lemmertz e Débora Evelyn. Não gosto do Paulo Betti, mas ele também está. O texto é contemporâneo e a história parece ser simples e ao mesmo interessante. Dois casais se encontram para resolver um problema casual de filhos, mas "o verniz social se quebra e a polidez dá lugar a um campo de batalha, onde tudo pode acontecer". Um dos espetáculos aguardados para essa edição. Dias 11 e 12, às 21h, Theatro São Pedro.

ESTAMIRA - BEIRA DO MUNDO (RJ)
O premiado filme de Marcos Prado causou um reconhecimento na atriz Dani Barros, que resolveu seguir adiante o projeto. O resultado é que ela também foi premiada com o Shell 2011 de melhor atriz. "É a história de uma catadora de lixo, doente mental crônica, com uma percepção do mundo surpreendente e devastadora.". Dias 18, 19 e 20, às 22h no Teatro de Câmara Túlio Piva.

ECLIPSE (MG)
Inspirado nos contos de Tchekhov. Grupo Galpão. Precisa mais? Dias 20, 21 e 22, às 21h, no Theatro São Pedro.

LOCAIS:

OS PLAGIÁRIOS - UMA ADULTERAÇÃO FICCIONAL SOBRE NELSON RODRIGUES
O melhor do teatro gaúcho está aqui. E com Nelson Rodrigues abençoando. As quatro grandes companhias premiadas com o Braskem 2011 (Santa Estação, Sarcáustico, Daixa do Elefante e Falos & Stercus) realizaram o projeto "Conexão em Cena", até então inédito no Festival, para homenagear o centenário do dramaturgo. Dias 05, 06 e 07, às 21h, no Centro Cenotécnico.


Os ingressos estão a venda na Usina do Gasômetro e nas lojas My Ticket, além do site ingressorapido.com.br. Corre lá!



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

LITERATURA: 20 contos de Truman Capote*

Pense em algum nome familiar de escritor estadunidense de ficção. Difícil, não? No século passado, acho que apenas dois homens conseguiram superar as fronteiras norte-americanas e fazer boa literatura para o mundo: Ernest Hemingway e Truman Capote.  E é sobre esse maravilhoso livro “20 contos de Truman Capote” que veio falar.
Os contos reunidos cobrem a maior parte de sua vida criativa, até o grande sucesso dos romances "Bonequinha de Luxo", de 1958 (livro que posteriormente virou um clássico do cinema, estrelado pela linda Audrey Hepburn) e "A Sangue Frio", de 1965. Eu diria até que a fase áurea da vida de capote, o momento que ele mais produziu, pois depois se perde num terrível submundo de drogas, bebidas e autodestruição. É um livro denso, é preciso lê-lo com atenção e concentração. Por vezes descritivo demais, mas de um encantamento e beleza irrefutáveis.
O interessante é que muitos dos contos parecem ser uma ficção inicial, um insight para um romance inconcluso. E por isso até o final de alguns contos surpreende: “mas já?”. Os contos “Um vison próprio” e “A pechincha” dialogam entre si, ou melhor, são extremamentes semelhantes. Já na segunda metade do livro encontram-se “Memória de Natal”, “O convidado do Dia de Ação de Graças” e “Um Natal”, nesses a voz ficcional é a voz aguda de Capote rememorando sua infância. Alguns detalhes autobiográficos escritos nesses três contos, quando o menino Truman morou no interior do Alabama com seus primos mais velhos e encontrou na velha prima srta. Sook e em seu bicho de estimação Quennie as suas grandes companhias. Bonito de ler!
“Miriam” é fascinante – quase possível enxergar a inspiração dos roteiristas de A Órfã – e “Meu lado da questão” lembrou minha desilusão ao ler “O Assassinato de Roger Acroyd”, de Agatha Christie: nunca confie no narrador! E a criatividade transborda em “Senhor Desgraça” e “Um violão de diamante”. À medida que lia os contos, imaginava adaptações em curtas-metragens. Sairiam belos filmes, certamente.


Pela simples clareza de sua prosa e por uma brilhante economia de ritmo narrativo permanente, Capote limpa de toda possível sentimentalidade um pequeno rol de personagens, ações e emoções que poderiam ter se tornado abominavelmente doces em mãos menos observadoras e talentosas. Só é possível pensar em Tchékhov como suficientemente talentoso no tratamento de assunto semelhante.


*com trechos de Reynolds Price


Em tempo: Há um filme sobre a vida do escritor, chamado “Capote”, com a bela atuação de Phillip Hoffmann. É o filme perfeito da Bibi Ferreira (hehe). Também vale a pena!

Em tempo (2): O livro “20 contos de Truman Capote” faz parte de uma coleção da Companhia das Letras, que conta com títulos também ótimos como “50 contos de Machado de Assis” e “125 de Guy De Maupassant”.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

FRASES V: Nelson Rodrigues


"Todos nós temos histórias que encheriam uma biblioteca; qualquer um pode fazer três mil volumes sobre si mesmo."



Nelson Rodrigues (1912 - 1980), no livro publicado recentemente "Nelson Rodrigues por ele mesmo", organizado por sua filha, Sonia Rodrigues.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

CINEMA: Allen, Paris e Roma


Essas férias fiz as pazes com Woody Allen. Assisti seus dois últimos filmes e não achei de todo ruins. Todo mundo diz e é fato que Allen mudou muito sua maneira de fazer cinema e que atualmente entrou na categoria de “Blockbuster”, de fazer filme para vender. Mas, mesmo assim, esse velhinho mostra em alguns momentos a sua genialidade e o porquê de ser um dos nomes mais famosos do cinema hollywoodiano.
Se você é um espectador menos crítico e gosta mais de comédia assista “Para Roma, com amor”. Já se você não se importa de não dar gargalhadas, identifica Hemingway, Fitzgerald, Dalí e Picasso, assista “Meia-noite em Paris”. Woody Allen parece mostrar uma receita: os dois filmes começam com imagens das cidades, nas duas histórias as cidades são personagens da trama, não apenas panos de fundo. “Meia-noite em Paris” é melhor, com certeza. Analisemos:


O elenco de “Para Roma, com amor” conta com mais nomes conhecidos e, de fato, é melhor. O destaque é para o próprio Woody Allen com seu Jerry, um aposentado da indústria da música. O velho Jerry e a sua obsessão pela ópera de chuveiro de um conhecido é o que mais arranca risadas do espectador. Penélope Cruz é linda, sexy e ótima sempre, mas está um pouco apagada nesse filme. Seria muito mais interessante, por exemplo, ser dela o papel da amiga sexy que acaba conquistando o namorado da melhor amiga. Apesar de Ellen Page estar ótima nesse papel, Penélope exala muito mais sensualidade do que ela. O filme é bom, e apenas isso, pois perde o fôlego do meio para o fim. E já lendo sua sinopse é de se prever isso: dificilmente quatro histórias distintas vão conseguir sobreviver em 102 minutos. O espectador espera que em algum momento as tramas se cruzem, mas isso não acontece.


Se “Meia-noite em Paris” não conta com um elenco muito conhecido (à exceção de Owen Wilson e Marion Cotillard), o destaque é a fotografia: Woody Allen parece ser mais apaixonado por Paris do que por Roma. O filme é lindo por si só. E o roteiro parece ter sido costurado com mais calma: a cidade na chuva e o disco de Cole Porter que são retomados diversas vezes são dois exemplos disso. Com certeza “Meia-noite em Paris” é para ser visto por um público mais culto, pois só esse público entenderá o deslumbramento de Gil Pender ao encontrar os artistas dos anos 1920 – como Ernest Hemingway, T.S. Eliot e Scott Fitzgerald. E o filme traz uma lição: Gil, que vive em 2010, sonha em viver nos anos 1920. Adriana, que vive em 1920, sonha em viver na Belle Époque. Os escritores da Belle Époque sonham em viver no Renascimento. Ou seja, todos acham que a fase anterior é a Era do Ouro e que seriam mais felizes se houvessem nascido antes, mas quem vive na época, acaba vivendo uma vida pacata e ordinária e sonhando com o passado. É como se Allen (que já não tem muitas perspectivas de futuro) dissesse para si próprio e para seu espectador “Não olhe o passado. Viva o presente intensamente.” Aliás, Gil Pender é um roteirista hollywoodiano, ou um alter ego de Allen.


Desista de entender Woody Allen. O seu ilogismo é a sua ficção: um carro antigo que passa na rua à meia-noite e permite um mergulho no tempo, um homem comum que vira famoso do dia pra noite, uma ópera cantada no chuveiro. É essa a ficção de Allen e é essa a ficção que deve ser feita: sem efeitos especiais, sem bruxaria, sem cordões mágicos.
Dá vontade de passear por Roma e por Paris. E dá vontade de ver esse velhinho fazendo mais filmes.