domingo, 24 de fevereiro de 2013

CINEMA: Um Amor Antes do Oscar (c/spoilers)

Os ganhadores do Oscar serão conhecidos logo mais à noite, mas antes não posso deixar de comentar o filme que mais gostei entre aqueles que assisti e estão indicados na categoria principal: Amor.



Mas não pretendo me estender relatando as suas qualidades, como a direção de Michael Haneke e a belíssima interpretação de Emmanuelle Riva. O que quero é responder a pergunta: “Por que o nome do filme é AMOR (Amour no original)?”, o questionamento essencial e que passou despercebido nas críticas especializadas.

Não fica claro qual a relação anterior desse casal de velhos. Será que eles são marido e mulher apenas pelo fato de dividirem a mesma cama? Pois em nenhum momento acontece um beijo ou qualquer carinho que defina um par romântico. Além disso, a filha não é tratada em cena alguma como filha dos dois, e sim como filha de um deles, apenas. Eles não podem ser irmãos? Ou grandes amigos? Ou ainda amigos depois de uma relação conjugal existente no passado? Sim, tudo isso é possível e, concomitantemente, nada disso parece ter importância. Parece que  a intenção de Haneke é deixar propositalmente a relação incerta para que o AMOR fique certo, definido e evidenciado. Não importa o que eles são um do outro, importa o amor que está ali entre eles e qual será a trajetória desse sentimento.

O diretor Michael Haneke com os
 atores Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant
Depois de identificar o sentimento que está entre os dois, a pergunta que fica em pauta é “Qual o limite do amor?” ou “Até onde vai esse amor?”.

Haneke, ao deixar vaga a relação do casal, também desconstrói a imagem hollywoodiana que associa amor de paixão. Para os velhinhos Georges e Anne, amor é uma saída ao teatro, uma leitura compartilhada, um café da manhã juntos. Amor é partilha, divisão, companheirismo, comunicação. Amor é também – e por que não? – amizade.

Quando Anne sofre o derrame que paralisa o lado esquerdo de seu corpo e a deixa num estado degenerativo, tudo isso que para eles é amor vai se perdendo, gradualmente, à medida que a doença avança. Georges, que de início só pensava em cuidar de Anne da melhor forma possível, vai abrindo mão dessas pequenas partes do amor, uma a uma (primeiro a partilha, depois o companheirismo e, por último, a comunicação). Quando tudo acaba, aquele amor que parecia acomodado durante décadas evapora como num passe de mágica. O cuidado que Georges tinha e que genuinamente era por amor, agora passa a ser um dever, uma obrigação. E Anne, com isso, se torna um estorvo.

Quando Georges mata Anne, ele também dialoga com o amor. Já que entre eles aquilo já se perdeu, ele decide resgatar o seu amor, o amor-próprio que ele tinha cedido naqueles últimos tempos. (Ou será que Geroges mata por amor de não querer mais vê-la sofrer?).

Por último, e outro ponto que passou despercebido, é a última cena. A saída dos dois, semelhante ao início do filme, dá margens a interpretações, mas sugere um reencontro redentor: Anne, serena, parece entender e perdoar o ato desesperado e impulsivo de Georges. Um entendimento que só é possível quando há amor.

Em tempo: quem gosta de cinema, palpita: “Argo” vence a categoria principal. Steven Spielberg como melhor diretor. Daniel Day-Lewis para melhor ator, Jennifer Lawrence para melhor atriz (torcida pra Riva), Phillip Seymour Hoffmann como ator coadjuvante e Anne Hathaway como atriz coadjuvante.

Um comentário:

  1. Acho que ele a matou por não suportar mais vê-la sofrendo. Prefiro enxergar assim. E torço muito por Riva, muito mesmo. Lembra quando te falei do trabalho dela há algum tempo?

    Abraços
    Clênio
    www.lennysmind.blogspot.com
    www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com

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