Mas não pretendo me estender
relatando as suas qualidades, como a direção de Michael Haneke e a belíssima
interpretação de Emmanuelle Riva. O que quero é responder a pergunta: “Por que
o nome do filme é AMOR (Amour no original)?”, o questionamento essencial e que
passou despercebido nas críticas especializadas.
Não fica claro qual a relação
anterior desse casal de velhos. Será que eles são marido e mulher apenas pelo
fato de dividirem a mesma cama? Pois em nenhum momento acontece um beijo ou
qualquer carinho que defina um par romântico. Além disso, a filha não é tratada
em cena alguma como filha dos dois, e sim como filha de um deles, apenas. Eles
não podem ser irmãos? Ou grandes amigos? Ou ainda amigos depois de uma relação
conjugal existente no passado? Sim, tudo isso é possível e, concomitantemente,
nada disso parece ter importância. Parece que a intenção de Haneke é deixar propositalmente
a relação incerta para que o AMOR fique certo, definido e evidenciado. Não
importa o que eles são um do outro, importa o amor que está ali entre eles e
qual será a trajetória desse sentimento.
O diretor Michael Haneke com os atores Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant |
Depois de identificar o
sentimento que está entre os dois, a pergunta que fica em pauta é “Qual o
limite do amor?” ou “Até onde vai esse amor?”.
Haneke, ao deixar vaga a relação
do casal, também desconstrói a imagem hollywoodiana que associa amor de paixão.
Para os velhinhos Georges e Anne, amor é uma saída ao teatro, uma leitura compartilhada,
um café da manhã juntos. Amor é partilha, divisão, companheirismo, comunicação.
Amor é também – e por que não? – amizade.
Quando Anne sofre o derrame que
paralisa o lado esquerdo de seu corpo e a deixa num estado degenerativo, tudo
isso que para eles é amor vai se perdendo, gradualmente, à medida que a doença
avança. Georges, que de início só pensava em cuidar de Anne da melhor forma
possível, vai abrindo mão dessas pequenas partes do amor, uma a uma (primeiro a
partilha, depois o companheirismo e, por último, a comunicação). Quando tudo
acaba, aquele amor que parecia acomodado durante décadas evapora como num passe
de mágica. O cuidado que Georges tinha e que genuinamente era por amor, agora
passa a ser um dever, uma obrigação. E Anne, com isso, se torna um estorvo.
Quando Georges mata Anne, ele
também dialoga com o amor. Já que entre eles aquilo já se perdeu, ele decide
resgatar o seu amor, o amor-próprio que ele tinha cedido naqueles últimos tempos.
(Ou será que Geroges mata por amor de não querer mais vê-la sofrer?).
Por último, e outro ponto que
passou despercebido, é a última cena. A saída dos dois, semelhante ao início do
filme, dá margens a interpretações, mas sugere um reencontro redentor: Anne, serena,
parece entender e perdoar o ato desesperado e impulsivo de Georges. Um
entendimento que só é possível quando há amor.
Em tempo: quem gosta de cinema,
palpita: “Argo” vence a categoria principal. Steven Spielberg como melhor
diretor. Daniel Day-Lewis para melhor ator, Jennifer Lawrence para melhor atriz
(torcida pra Riva), Phillip Seymour Hoffmann como ator coadjuvante e Anne
Hathaway como atriz coadjuvante.
Acho que ele a matou por não suportar mais vê-la sofrendo. Prefiro enxergar assim. E torço muito por Riva, muito mesmo. Lembra quando te falei do trabalho dela há algum tempo?
ResponderExcluirAbraços
Clênio
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