terça-feira, 8 de maio de 2012

LITERATURA: "As Esganadas", de Jô Soares


Quando entendemos “artista”, como “aquele que faz arte”, afirmo sem dúvida que o maior artista em atividade no Brasil hoje é Jô Soares.  
  
Jô não trabalha só em um campo artístico, mas em todos e nunca uma expressão caiu tão bem para alguém. Parece que a palavra “artista” foi feita para o Jô e somente para ele. Jô é humorista, ator, apresentador, entrevistador, artista plástico, dramaturgo, diretor de teatro, músico e escritor. Ufa!! Acho que lembrei de tudo, ma é bem possível que eu tenho esquecido de algo. Estou sempre pré-disposto a curtir o que esse gordo faz, mas ele me surpreende. Parece que faz tudo com excelência – tanto dos tempos de “Viva o Gordo” e suas entrevistas, até o teatro:  já assisti peças suas e direções de textos famosos (memorável o seu “Ricardo III”, com Marco Ricca, Denise Fraga e Glória Menezes no elenco, apresentada no TSP em meados de 2007”.) Mas falarei sobre seu novo livro “As Esganadas” , um exemplo dessa sua excelência.
                      O livro tornou-se um best-seller no final do ano passado e no início deste ano. Para se ter uma idéia, figurou por 18 semanas consecutivas na lista dos mais vendidos da Veja, e sua tiragem inicial de 80.000 acabou em uma semana. É um thriller policial de qualidade e idiossincrático, com raras falhas.

                Primeiramente, devemos nos ater ao caráter satírico da obra. Todo o livro fala de gordas. GORDAS. G-O-R-D-A-S. Detalha minuciosamente todas as banhas das mulheres, as dobras de gorduras, os dedos roliços e tudo que se pode imaginar. Além de descrever os atos dessas gordas, como se lambuzar comendo, lamber os dedos, etc. Fiquei pensando: e se não fosse Jô o escritor? Sim, porque leva-se tudo isso numa boa porque é o Jô Soares quem escreveu, um gordo, e um gordo ilustre, não qualquer gordinho de mesa de McDonald. E se não fosse o Jô? Será que o livro não seria taxado de preconceituoso e o escambau?
                Outros aspectos da obra chamam a atenção: sendo um thriller policial, o que se espera é um assassinato, um enredo e a descoberta do homicida ao final. Agatha Christie, Conan Doyle, Sidney Sheldon, por exemplo. Mas Jô inverte a lógica: começa a narrativa revelando a identidade do assassino e os motivos que o levarão a matar as gordas esganadas. A criatividade dos crimes é o maior tempero do livro. E a trama são as dúvidas da polícia, que sempre está um passo atrás de Caronte, o assassino.
                O livro se passa no Rio de Janeiro de 1938 (ano de nascimento de Jô). É fato que o autor fez um grande trabalho de pesquisa, para reproduzir com detalhes os caminhos da cidade, os acontecimentos da época e os meios de comunicação usados naquele tempo. O rádio exerce papel fundamental na obra, em descrições bonitas e ricas em imagens. E os mapas do Rio vão muito além da Rua do Ouvidor. Os aspectos da mitologia também são interessantes. O principal deles é de Caronte, o assassino, que é dono da funerária Estige. Na mitologia grega, Caronte é o barqueiro do Hades, que carregava as almas dos recém-mortos, realizando a travessia pelo rio Estige. Ele é bem retratado em “A Divina Comédia”, de Dante.
                De ruim, apenas duas coisas: as imagens inseridas nos livros, toscas e desprezíveis. Me senti, por vezes, julgado como um leitor burro e infantil, que precisava de certas figuras para entender o que já estava escrito. E o final, embora criativo e cômico, é previsível. Muito previsível. Mas, com certeza, é uma boa e fácil leitura. Vale a pena.

Em tempo: começaram as vendas dos espetáculos musicais “Xanadu” e “Cabaret”. São dois espetáculos ótimos, o preço tá meio salgado, mas é um bom investimento.

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